o leilão da memória


O negativo de Cidadão Kane foi destruído, em 1970, por um incêndio na vila de Welles em Madri, na Espanha. E, até 1991, todas as cópias do filme eram desse original.
Quando a obra foi comprado pela Turner Entertainment, junto com os acervos da MGM e RKO, foi produzida uma cópia prístina para comemorar os 50 anos do lançamento, que a Paramount colocou no mercado. As atuais cópias americanas em DVD, lançadas pela Warner, vêm de outra restauração digital, supervisada pela Turner.
Nos anos 80, Ted Turner disse a jornalistas que estava pensando em colorizar Cidadão Kane e enfrentou uma grita geral contra essa pretensão.
Mas ele jamais anunciou qualquer projeto nesse sentido e, mais tarde, disse que tinha sido apenas uma brincadeira, para alfinetar os críticos desse processo.
Mas Turner não poderia ter colorizado o filme, mesmo se quisesse, porque o contrato original de Welles protege a obra de qualquer alteração sem seu consentimento ou de seus herdeiros.
Por isso se atribui a ele, ao final da vida, uma declaração indignada a esse respeito: “Ponham Turner e suas malditos pincéis atômicos longe de meu filme”.
Na década de 1980, a memória de Cidadão Kane entrou em leilão. Em 1982, o diretor de sucessos Steven Spielberg comprou por 60.500 dólares um dos três exemplares originais do trenó Rosebud, de Cidadão Kane.
Os dois outros teriam sido queimados na filmagem. E homenageou o filme com a última cena de Os Caçadores da Arca Perdida. 
Em dezembro de 2007, a estatueta do Oscar que Welles recebeu pelo roteiro de Cidadão Kane foi posta em leilão no Sotheby’s de Nova York, mas não alcançou o lance desejado de 800 mil a 1,2 milhão de dólares.
A Academia de Ciências e Artes Cinematográficas, promotora do Oscar, protege rigorosamente esse patrimônio e exige que os indicados se comprometam a não dispor da estatueta, caso a recebam.
Mas Welles ganhou seu Oscar em 1942, nove anos antes dessa medida e não precisou cumpri-la.
Há quem goste de enfeitar a lareira com Oscars recebidos por grandes filmes e estrelas. O Oscar de melhor filme de E o vento levou, conquistado por David O. Selznick, foi vendido em 1999 por 1,5 milhão de dólares.
Mas também há personalidades de Hollywood que têm procurado manter as estatuetas nas mãos da Academia. É o caso de Steven Spielberg, que chegou a comprar, para a instituição, Oscars recebidos por Clark Gable e Bette Davis.
Mas, ao que se conta, Welles tinha pouco zelo por seu Oscar. Quando Cidadão Kane recebeu nove indicações para o prêmio, para ganha-lo somente pelo roteiroo, Welles estava rompido com a Academia e não compareceu à cerimônia.
E, mais tarde, simplesmente perdeu a estatueta, provavelmente quando passou anos de sua vida morando com diferentes conhecidos de Hollywood.
Depois de sua morte, em 1985, sua filha mais jovem, Beatrice, conseguiu da Academia uma cópia oficial da estatueta.
Mas, em 1994, a estatueta original surgiu num leilão na Sotheby’s de Nova York. Ela estava com Gary Graver, um cinegrafista de Welles, que declarou tê-la recebido do diretor como presente.
Beatrice Welles abriu processo e sustou o leilão, alegando que queria colocar a estatueta num memorial ao pai.
Mas, ao invés disso, colocou-a à venda em 1997 e, em 2003, ela foi comprada pela Fundação Dax, de Los Angeles, dedicada à caridade. Foi essa fundação que a colocou no leilão de 2007 em Nova York.  
Nesse mesmo leilão, foi arrematada por 97 mil dólares uma cópia, pertencente a Welles, da última revisão do roteiro de Cidadão Kane, antes de se transformar no script de filmagem. A cópia tinha 156 páginas, com anotações em lápis de cera azul.
"Acreditamos que muitos dos traços de lápis de cera azul, riscando diálogos foram do próprio Welles, que era conhecido por fazer isso. E o comprador verá trechos inteiros reescritos para aguçar os diálogos e as personagens", disse Lee Dunbar, vice-presidente da Sotheby’s e responsável pelo leilão.
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