o castelo sombrio


Na sequência inicial de Xanadu, a câmara passa por cima de uma cerca e, através de cortes e fusões, percorre uma composição de cenários parciais e pinturas em vidro representando Xanadu, numa atmosfera sombria.    










Entre essas imagens, a mais poderosa é a do castelo, uma pintura em matte provavelmente feita sobre uma placa de vidro de 1 metro quadrado, a partir da qual foram feitas outras, mostrando Xanadu de vários ângulos.  
O ponto de partida para o desenho de Xanadu foi, provavelmente, San Simeon, o castelo de Hearst na Califórnia. Os arquivos do Mercury Theatre tinham fotos desse castelo e, para cada uma delas, há uma pintura correspondente no filme, mostrando Xanadu numa disposição semelhante.
Outra fonte provável é abadia de Mont Saint Michel, na França, ao qual Xanadu é semelhante, pela localização em cima de um promontório, pelo conjunto arquitetônico, pelo empuxo central vertical e pela proliferação de espaços funcionais externos.
O Mont Saint Michel. ao por-do-sol, é um tema conhecido, pela luz que atravessa a torre central e se irradia dramaticamente pela escuridão que circunda o edifício.

Os detalhes arquitetônicos individuais de Xanadu são precisos e, em grande parte, sem qualquer relação entre si. Provavelmente, cada um remonta a um original diferente e guarda absoluta incompatibilidade com os outros.
A torre mais afastada, à direita, sugere o campanário da Praça de San Marco, em Veneza.


A colunata em arco sob a torre lembra um detalhe do Palazzo Pitti, em Florença.

À esquerda da colunata, há um vestíbulo abobadado em estilo vitoriano que pode ser encontrado, por exemplo, na All Saints Church, em Londres.

No mesmo nível, à esquerda da colunata, há uma rosácea de catedral gótica.
Mais acima e à esquerda, há ameias medievais, outra torre em estilo italiano, uma torre mais compacta que talvez siga as linhas de La Giralda, em Sevilha e um tratamento de telhado que lembra um castelo alemão do século 19.
Quando assistimos ao filme, não conseguimos classificar esses traços, porque o exterior de Xanadu aparece muitas vezes, mas sempre em planos rápidos e, com isso, o castelo se torna uma imagem remota e misteriosa.
Mas não deixamos de perceber a extrema variedade e incongruência visual, que trazem uma sensação semelhante à que experimentamos com o set da Babilônia, no filme Intolerância, de David W. Griffith (1875-1948), 1916.

Xanadu é, ao mesmo tempo, a imagem de um monumento, uma imagem monumental e um desfile vão de arabescos e demonstrações estilísticas. Mas, se é contraditório quanto à composição, ser todo guarda uma forte unidade romântica.
O tema de uma estrutura física refletindo seu principal ocupante é comum, tanto na literatura, como no cinema e na arquitetura e existe o suficiente, no filme, para perceber que Welles sempre o teve em mente.
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