a composição das cenas


Na composição de cena,  Welles aplicou todo um conhecimento da pintura dos grandes mestres e vários princípios do expressionismo alemão. Detalhes.

Na sequência da casa da Sra. Kane, Welles usou recursos importantes da pintura clássica. Quando as personagens se movimentam, a principal delas - que é a Sra. Kane - fica sempre no centro, numa verdadeira coreografia de marcação teatral, como nos quadros renascentistas (abaixo do fotograma, O renascimento de Vênus, de Boticelli):



Quando as personagens ficam paradas, a Sra. Kane continua no centro da ação, mesmo que esteja no canto da cena, porque as outras personagens olham para ela ou para o que ela faz. E levam, consigo, o olhar do público, num recurso emprestado da pintura barroca (abaixo do fotograma, A volta do filho pródigo, de Rembrandt):





Enquanto isso, o menino Kane continua no fundo, através da janela, chamando a atenção do espectador com sua atividade. E o centro da ação fica entre ele e a assinatura do papel, enfatizando o momento em que sua mãe entrega a outros o controle de seu destino.


Na composição de cena de Cidadão Kane, Welles usou com frequência a luz e sombra como elemento expressivo, que trouxe da pintura barroca e do expressionismo alemão.


Na biblioteca, quando o jornalista lê as memórias de Thatcher sob um foco de luz, a cena remete ao célebre quadro Filósofo em meditação, de Rembrandt, pintor por cujo claro-escuro Welles tinha predileção:



Na cena da redação, depois do cinejornal do início do filme e em algumas cenas com Susan, no final do filme, Welles também usa a luz e sombra como recurso de expressão:





Na primeira parte do filme, quando Kane ascende ao cenário americano com seus ideais de juventude, predomina a luz clara e contrastada. 

No início de sua trajetória, Kane é visto como um reformador, uma esperança de futuro incorporada a um empreendedor que é a imagem do titã americano.





Já a maioria das pesadas cenas expressionistas está na última parte da  história, depois de Kane trair suas promessas e se tornar mesquinho e cruel.

Essas cenas se associam ao sombrio e gigantesco castelo de Xanadu, onde a esperança de futuro se torna uma figura solitária, insensível e arrogante. 









A iluminação expressionista alemã se tornou moda, nos estúdios americanos, logo depois de Cidadão Kane.


Na verdade, além da influência de Welles, a explicação para essa voga foram as restrições de custo no tempo da Guerra e o surgimento de diretores de cinema, de fotografia e de arte com formação européia, depois que os talentos nacionais foram convocados pelo Exército.


Além da luz e sombra, Welles trouxe do expressionismo a grande volumetria, expressando monumentalidade, poder e intimidação:

 




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