o império contra-ataca


Em janeiro de 1941, a RKO convidou alguns jornalistas para uma sessão prévia de Cidadão Kane, mas não Louella Parsons (1881-1972), a colunista de cinema de Hearst. 

Uma das publicações presentes, a revista Friday, lançou um artigo comparando, ponto a ponto, as figuras de Kane e de Hearst. E acabou documentando, publicamente,  a imagem que o filme ia veicular do empresário.  
 
Segundo os relatos, Louella ficou furiosa e exigiu outra sessão do filme. O ator James Stewart, que compareceu ao evento, contou que ela se retirou indignada da exibição e, logo em seguida, procurou George Schaefer, presidente da RKO, ameaçando o estúdio de processo, se fizesse o lançamento.


No dia seguinte, o Daily Variety anunciou que Hearst estava banindo a RKO de seus jornais, medida sustada duas semanas depois.  A 13 de janeiro, o Hollywood Reporter noticiou que os jornais de Hearst estavam preparando denúncias sobre a contratação de refugiados de guerra por Hollywood, tirando trabalho de americanos.

O objetivo era  jogar os estúdios contra a RKO, para fazê-la tirar Cidadão Kane de circulação.

Com efeito, logo em seguida  Schaefer foi procurado por Nicholas Schenck, presidente da MGM, que lhe fez a oferta, em nome de Louis B.Mayer e outros executivos de Hollywood, de reembolsar a RKO, caso ela concordassse em queimar o negativo do filme e destruir todas as cópias.

A resposta de Schaefer foi anunciar, apoiado em seus advogados, que o filme seria lançado com uma das maiores campanhas promocionais da história da RKO.

Ao mesmo tempo, fez em Nova York uma sessão para os presidentes e o corpo jurídico dos estúdios e recebeu deles apenas a recomendação de  alguns cortes, autorizados por Welles, de trechos que se referiam diretamente a Hearst.

Mas, mesmo assim, Hearst recusou a publicidade de Cidadão Kane em seus jornais, baniu resenhas e proibiu mesmo a menção do título. Ao mesmo tempo, usando o poder de sua mídia, fez com que várias salas boicotassem a exibição da obra. 

Em Nova York, Cidadão Kane ia ser lançado no Radio City Music Hall, mas Louella Parsons avisou a Nelson Rockefeller, do staff da RKO, que, se o filme fosse exibido, a revista American Weekly Magazine, de Hearst, publicaria uma matéria negativa sobre os negócios de seu avô.

Rockefeller recuou e, diante disso, o lançamento foi transferido para o RKO Palace, na Broadway, em maio de 1941. Mas outras salas temeram retaliações de Hearst e se recusaram a mostrá-lo.

Com esse boicote, Cidadão Kane acabou indo bem, nas cidades maiores, mas teve pouca bilheteria em regiões distantes, onde cadeias inteiras de cinema, pela mesma razão, continuaram se recusando a exibi-lo.

Numa série de documentários da BBC sobre sua carreira, exibidos em 1982, Welles contou que, uma noite, na semana de lançamento do filme, um policial se aproximou dele  e recomendou que ele não voltasse ao hotel, porque Hearst havia plantado uma mulher nua em seu quarto e um fotógrafo para armar um escândalo. 

Welles também contou que se encontrou casualmente com Hearst, no elevador do Fairmont Hotel, em San Francisco e lhe ofereceu ingressos para a estréia do filme na cidade, Hearst  simplesmente o ignorou e Welles respondeu, com humor, que Charles Foster Kane teria aceito seu convite. 

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